A MEDIAÇÃO DIDÁCTICA: UM CONCEITO PARA PENSAR
Por me parecer de
utilidade para os colegas professores, traduzi e resumi o artigo de Line Numa-Bocage,
A
mediação didáctica: um conceito para pensar.
A questão da
aprendizagem em meio escolar implica, entre outros, o interesse pelas
interacções entre o professor e o aluno. Um dos problemas actuais dos
pesquisadores consiste em descrever o melhor possível os mecanismos psíquicos
em jogo na relação ensino/aprendizagem no seio da classe, o seu sistema de leis
e as suas diferentes ligações. O estudo, neste artigo, organiza-se por um lado
em torno da descrição das condutas observáveis dos diferentes actores
(professor e alunos) e, por outro lado, das interpretações possíveis das
reacções então observadas. Visa, assim, dar conta de certos mecanismos
psíquicos e relacionais, responsáveis pelo desenvolvimento dos conhecimentos do
aluno e provocados pela acção do professor sobre os esquemas iniciais dos
alunos.
Apoia-mo-nos para
descrever os mecanismos de interacção mestre-alunos, sobre uma definição do
conceito de mediação didáctica que
decorre de uma concepção vygotskiana das interacções.
A análise das
interacções entre professor e alunos aquando da aprendizagem da noção de
numeração decimal, no curso preparatório (CP), é para nós ocasião de ilustrar
esta definição do conceito de mediação didáctica.
Uma definição possível do conceito de mediação
didáctica.
A perspectiva piagetiana
do funcionamento do esquema no desenvolvimento dos conhecimentos do sujeito, e
o contributo teórico fundamental de Vergnaud constituem elementos
incontornáveis para compreender os mecanismos de interacção mestre-aluno. Estas
interacções, mediatizadas directamente ou indirectamente pelo professor,
conferem ao adulto um papel determinante no processo de aprendizagem, papel que
a teoria da mediação de Vygotski ajuda a analisar.
Conceito de esquema
Piaget mostra como um
esquema se modifica quando escreve: *... a criança não faz nenhum salto no seu caminho
para a maturidade; um esquema considerado num dado momento, aparece sempre como
um desenvolvimento gradual dos esquemas precedentes; ele consiste também,
sempre, numa reorganização activa da experiência vivida+ (Piaget, 1966, 332). No quadro escolar, esta
experiência vivida pelo sujeito realiza-se em parte na classe, na interacção
sujeito-objecto como a entende Piaget, mas também em interacção com o professor
e os seus pares. Vergnaud (1994, 182) propõe um esquema desta acção do professor,
explicando que o papel do professor é o de oferecer ao sujeito, de início,
situações, isto é, a ocasião de aplicar os esquemas existentes, e de
desenvolver novos esquemas nas situações de resolução de problemas. O professor
oferece igualmente uma ajuda à identificação do objectivo a atingir, à
categorização e à selecção da informação, à regulação da conduta, ao
raciocínio. Além da situação, a acção do professor incide sobre os invariantes
operatórios, as possibilidades de inferências, os fins e as regras de acção dos
esquemas dos alunos:
Figura 1. C Acção do professor segundo Vergnaud (1994, 182)
Este esquema de acção do professor põe em
evidência três níveis de representação, dos mais exteriores aos mais interiores
ao sujeito, onde o professor pode agir: 1. ao nível da situação de partida e do
contexto, 2. ao nível do esquema do aluno: objectivos, regras e antecipações dos
invariantes operatórios e 3. ao nível das possibilidades de inferência.
Estes três planos de
acção arrastam uma diversidade de mecanismos de ajudas possíveis. Deste facto,
a mediação no ensino, é, na nossa
opinião, o conjunto dos mecanismos e dos processos postos em acção pelo
professor para ajudar o aluno a construir o seu pensamento, a apropriar-se das
noções, no decurso de uma colaboração cognitiva entre o aluno e o mestre, logo
que este último age sobre os diferentes níveis.
Conceito de mediação didáctica
Consideramos, na
sequência de Piaget e de Vergnaud, que a acção de mediação didáctica é a confrontação
cognitiva dos esquemas de ensino com os esquemas de acção do aluno com vista à
criação de conflitos [desafios] cognitivos no aluno por novas coordenações dos
esquemas iniciais.
Seguindo N=Guessan (1992, 23), que se inspira em Piaget,
retemos que as experiências são fundadas em diversos princípios, entre os quais
são de salientar:
a) a actividade do sujeito: uma situação de aprendizagem é tanto mais
frutuosa quanto mais activo estiver o sujeito e que ela forneça ocasião de
reencontros possíveis mais apropriados em função do nível destes esquemas com a
realidade física e com o interlocutor.
b) a coordenação dos esquemas: todo o conhecimento novo se integra nos
conhecimentos anteriores.
c) as etapas da evolução: existem certas vias principais que conduzem à
elaboração do conhecimento.
Além destes três princípios, os processos de
aprendizagem repousam sobre uma estratégia, o confronto dos esquemas (conflitos
cognitivos).
A mediação didáctica constitui uma das vias que favorecem a
elaboração do conhecimento. Esta mediação toma diferentes formas que procuramos
identificar. Uma de entre elas é a actividade no decurso do ensino, que se
manifesta (1) nas acções do professor, (2) nas situações que escolheu a accionar,
e (3) na sua linguagem.
Por outro lado, retemos
para esta análise, numa aproximação do desenvolvimento da didáctica
profissional:
C a escolha
das situações apresenta um interesse didáctico (o referente).
C a permuta
comunicacional ou célula de troca. É o corte selectivo do protocolo de uma
sessão de ensino em pequenas parcelas dialogais (unidades de troca) em torno de
uma noção ou de uma competência precisa. O objecto, a propriedade tratada, os
objectivos e antecipações podem aparecer a este nível.
C o rodeio
conceptual ou espiral de trocas. É o corte em unidades de sentido, mais
funcionais que o confronto comunicacional.
A articulação destes dois níveis de corte e de
análise permite descrever os processos de mediação didáctica (esquemas de mediação e de tutela). Esta actividade dá lugar a rodeios conceptuais onde vão
articular-se os dois níveis cognitivo de corte e os esquemas de ajuda do
professor, em função da análise da situação que este último faz. Esta distinção
entre esquema de mediação e esquema de tutela apoia-se sobre a definição
proposta por Annick Weil-Barais (1998, 7), quando escreve * ... no quadro
da tutela, é a execução das tarefas que determina a intervenção do
professor, enquanto que no quadro da
mediação, é a referência ao saber que trabalha.
Um esquema de mediação didáctica.
O mestre, quando é
mediador, ajusta a sua possível escolha de estratégia à evolução da situação,
em função das respostas dos alunos. Então ele exercerá aí adaptação na acção. O
professor mediador adapta-se ao aluno a um nível meta-cognitivo. Em função do
problema proposto, o mestre segue o aluno (os alunos) no seu pensamento (seus
pensamentos) pondo as questões que conduzem à apropriação dos elementos pertinentes
para a construção dos conhecimentos, é a adaptação *durante+. Esta posição de mediador pode ser assimilada ao
tipo de questionamento descrito por Piaget para ilustrar o seu método de
conversação livre com a criança, *conversação dirigida pelos problemas propostos mas
obrigando-se a seguir, aquando de cada resposta, os rodeios da construção
espontânea do sujeito+ (citado por Bideaud, 1991, 5).
Quando o professor é
tutor, há uma adaptação a priori às possíveis reacções dos alunos; uma
adaptação *antecipante+. O professor tutor premedita os trâmites de
questionamento, uma rotina pertinente que escolhe utilizar para ajudar os
alunos na construção dos seus conhecimentos; e que é geralmente utilizada no
ensino de sequências precisas, de algoritmos.
A actividade do
professor durante a sessão, pode descrever-se e analisar-se através de uma
sucessão de episódios cognitivos no decurso dos quais os diferentes níveis
conceptuais da mediação didáctica podem ser identificados. Um episódio
cognitivo (EC) é então caracterizado por dois elementos:
1. B um momento da actividade do professor dirigida ao
esquema de acção do aluno, traduzindo uma etapa da passagem do nível da
situação concreta ao nível da representação e do significado. Este momento da
conceptualização é descrito através das instâncias do esquema relacionadas pela
acção, instâncias tomadas em consideração pelo professor.
2.B a natureza da mediação possível trabalhada pelo
professor para facilitar a evolução do pensamento do aluno, através de
diferentes momentos (tutela ou mediação).
Os observáveis da
situação de ensino que retivemos para realizar a nossa modelização da mediação
didáctica quando de uma digressão conceptual (diálogo) são:
B Situação didáctica de partida (S1): a situação
que suscita um problema, favorece a antecipação e permite a expressão das
hipóteses de trabalho.
B Momento A: é o momento da actividade mais próximo
da situação concreta. Trata‑se de um tempo de tomada de informações; a passagem
da situação real à representação e à antecipação.
B Momento B: é o tempo do raciocínio inferencial;
trabalho de elaboração conceptual em torno do significado, lugar do conflito
cognitivo. É um momento difícil de identificar.
B Momento C: é o momento da actividade em que o
aluno pode agir e manifestar o fruto do seu raciocínio
BSituação final (S2): a situação de partida
encontra-se forçosamente modificada pela actividade e/ou acção do sujeito, ele
cria então uma nova situação-problema que pode dar lugar a um novo rodeio
conceptual.
A função didáctica da mediação resume-se no
esquema do rodeio conceptual (figura 2). Apresentamos este esquema na sequência
da explicação apresentada recentemente, pois a ajuda de alguns exemplos mostram-nos
o carácter operatório deste modelo para analisar a actividade da ajuda do
professor.
B Situação S1: situação didáctica de partida.
BSituação S2: situação final.
B PB1: problema de partida, pode ser diferente para
o professor e para o aluno.
B EC (1, 2, 3, 4, 5): Episódio Cognitivo (1,
2, 3, 4, 5).
Rep (A; B; C): resposta(s)
do(s) aluno(s) aos actos de mediação dos momentos (A; B; C)
B em pontilhado - - - : percursos ao nível
cognitivo; certas etapas podem não aparecer nas permutas; mas as respostas dos
alunos deixam supor que foram franqueadas.
!: percursos possíveis assinalando o salto
cognitivo realizado e as etapas vencidas.
As condutas de ajuda,
mesmo quando são comuns a diferentes professores, apresentam especificidades
para cada um:
a)
na escolha
dos símbolos linguísticos,
b)
na escolha
dos objectos respeitantes à mediação,
c)
na escolha
das formas tomadas por esta última.
Este esquema de rodeio conceptual, traduzindo as dimensões próprias da
mediação (actores, objectos de saberes, formas de ajuda, etapas da
conceptualização) e ligações dinâmicas entre os diferentes elementos, permite
acentuar sobre, pelo menos, dois registos cognitivos da acção do professor:
B aquele em que o professor procura despertar o
raciocínio inferencial, a relação que o aluno mantém com a noção (professor
mediador);
B aquele em que o professor busca conduzir e guiar
de perto a actividade cognitiva através da execução de certos gestos (professor
tutor).
A tomada de consciência da existência e do
funcionamento destes processos na complexidade da relação ensino/aprendizagem
na classe constitui uma das dimensões que favorecem o desenvolvimento das competências
profissionais do professor e permite adaptar melhor a sua ajuda às dificuldades
dos alunos.
Após esta explicação do modelo de análise,
experimentamos a sua funcionalidade sobre os protocolos colhidos da observação em
classes ordinárias, sobre o tema de aprendizagem da noção de base dez no Ciclo Preparatório (CP), e depois com outros
temas de ensino ou de formação na escola.
Conceito de mediação didáctica e numeração. O
ensino da numeração decimal no sistema escolar francês.
A numeração decimal,
objecto de ensino, permite-nos discutir o conceito de mediação didáctica, abordando
o estudo do sistema mestre-aluno do ponto de vista do mestre, procurando dar
conta da actividade docente com a ajuda do conceito de esquema, a partir das
interacções verbais aquando do ensino da noção de base dez em numeração
decimal.
O ensino da numeração
tem início, de maneira sistemática, no sistema francês, no CP [5-6 anos]. Os professores
esclarecem que existem neste ensino momentos de dificuldade tais como:
1) a passagem à dezena,
2) a adição com resto,
3) o estudo
dos números entre 69 e 100 [oitenta, em francês quatre-vingts].
A epistemologia dos sistemas de numeração mostra
os obstáculos conceptuais que é necessário vencer para elaborar o sistema
numérico bem como os elementos que facilitam a sua elaboração verbal, e depois
escrita. Um sistema de numeração é eficaz e fácil de trabalhar se permite
escrever os números, os grandes como os pequenos, com o mínimo de sinais
tipográficos, de uma forma condensada. Ele deve igualmente permitir fazer de
modo simples e rápido as operações usuais. No sistema de numeração decimal, o
conceito de base (traduzido pelos professores pela expressão *passagem à dezena+)
constitui um dos pontos essenciais da compreensão deste sistema. É um obstáculo
cuja compreensão é rapidamente ultrapassada pelos alunos do CP sobre os
primeiros números. Mas as dificuldades aparecem ulteriormente, pondo em
evidência que a generalização da noção de base dez a todo o sistema numérico
não foi realizada por todos os alunos.
Actos de mediação dos professores e aprendizagem
da dezena.
Como se realiza a acção
dos professores sobre os esquemas dos alunos no momento da aprendizagem? No
ensino da numeração a questão da compreensão e utilização dos significantes
verbais e simbólicos (a série numérica; o vocabulário próprio de cada classe e
de cada professor), é re-articulado em torno de quatro elementos:
1) os objectos do real (o referente);
2) os invariantes
operatórios constitutivos dos esquemas (conceito de número natural, conceito de
base, esquema de enumeração 1 a 1);
3) o significado
(aspecto sistémico da numeração);
4)
o significante
(numeração oral, escrita em letras ou algarismos).
O ensino da numeração, sob uma aparente
simplicidade, recobre processos de conceptualização e de articulação de
esquemas relativamente complexos. Se o professor pretende favorecer o melhor
possível estes processos de conceptualização, é necessário que articule
diferentes dimensões na situação de ensino.
Protocolos de interacção e situações de ensino.
Os protocolos sobre os
quais aplicámos o nosso modelo são tirados de uma pesquisa onde um dos
resultados mostrava que cada professor utilizava na ajuda à aprendizagem um
esquema de interacção verbal próprio (Numa-Bocage, 1997). Em três classes do
CP, a situação proposta aos alunos, em grupos de dois, consistia em avaliar
precisamente uma colecção de elementos discretos (tentos, cubos, pérolas,
palitos). Cada grupo tem uma quantidade diferente, cujo dimensão ultrapassa as
capacidades de enumeração 1 a 1 de cada um dos alunos do grupo (capacidades
previamente avaliadas no decurso de entrevistas individuais de tipo
piagetiano). Os momentos que escolhemos apresentar, nos extractos seguintes,
são os dos ensaios do esquema espontâneo de enumeração utilizado pelos alunos;
isto é, os momentos de interacção mestre-aluno que constituem os rodeios
conceptuais no decurso dos quais os professores ajudam a tomada de consciência
da necessidade de utilização de agrupamentos que constituem a base. O ponto de
vista didáctico que é aqui privilegiado, sendo a construção do sistema de
numeração e a compreensão dos conceitos que participam nesta construção o
objectivo principal das interacções.
Nos extractos (1; 2; 3) que apresentamos, as
situações são semelhantes, mas os esquemas de enumeração dos alunos são
diversamente modificados em função das acções dos professores. Três alunos de
três diferentes classes do CP (Sabah, Houda e Pauline) estão em dificuldades
para avaliação numérica de uma colecção de objectos concretos, manipuláveis [segue-se o método do enfeixamento de palitos]:
Extracto 1. (A professora é LO e o aluno é Sabah)
LO: Quantos tens?
Sabah: Eu tenho … unh…
(ela olha o seu material e começa a contá-lo 1 a
1)
LO: Então, para saber rapidamente quantos tens,
que podes fazer? Sabah, como pode fazer-se para verificar logo quanto se tem?
Sabah: molhos de dez.
LO: Onde estão esses molhos? não os vejo.
Extracto 2. ( a professora é Hi e o aluno é Houda).
Hi: Tu ja sabes quantos há? Quantos há ? ...
Houda: 1, 2, ... 26 (ela enumera até 26 e não pode
continuar)
Hi: Já não sabes mais! Então como podemos fazer
para continuar a contar quando já não se sabe mais ? O que podemos fazer para
contar tudo isto até ao fim? Vamos aprender a contar até ao fim, mas ainda não
sabemos, então que podemos fazer para contar até ao fim? Quando tens uma grande
quantidade de palitos, que é necessário fazer?
Houda: Contar.
Hi: Contar como?
Houda: Com molhos.
Hi: Fazer molhos! (acentuando as palavras). Ela tem
razão. De 8, de 7, de9, de 3.
Então quereis fazer molhos de quanto?
Houda: de 20.
Hi: Molhos de 20, de acordo, façam molhos de 20.
Extracto 3. (a professora é Ar e a aluna é Pauline)
Pauline: Ben, ela viu que tinha muitos.
Ar: E então, se não consegues ... Vais recomeçar
uma terceira vez. Quando tiveres contado duas vezes, saberás que é duas vezes a
mesma coisa, o que é bom.
Pauline: Não
Ar: Não? Então Ben, tu vais continuar, como vais
fazer para saber se é isso?
(Brunel, na carteira ao lado: faz dezenas; Ar
ouviu e disse em voz alta para Pauline e para toda a turma).
Ar: Atenção, Brunel fez molhos de dez ... e os
molhos de dez, aqui, será bom? Então é preciso contar isto, tudo isto.
Apesar de uma situação de partida semelhante
(enumerar uma colecção discreta), de um objectivo idêntico (determinar o
cardinal; a mesma dificuldade para encontrar o cardinal para cada aluno), pode
observar-se uma certa variedade nas proposições didácticas dos três
professores. Os objectivos a ter em conta não são os mesmos para todos os
professores:
1) a contagem exaustiva: contar até ao fim;
conhecer com certeza o cardinal;
2) a escolha das variáveis didácticas (eficácia da
acção; memória colectiva; exemplo de um aluno)
3) os objectivos de saber e as finalidades da
acção empreendida (construir um sistema eficaz e geral; realizar uma contagem)
Pudemos observar, através
dos esquemas de interacção verbal e das regras de acção aplicadas, que cada
professor tinha uma maneira própria e recorrente de interagir com os alunos, uma
prática didáctica traduzindo, uma organização invariante e distinta dos outros.
Apresentamos a análise de cada professor nos quadros 1, 2 e 3. É através das
diferentes expressões verbais dos professores que vemos o acento que cada um
põem na finalidade da acção, na reflexão ou ainda num questionamento
favorecedor da antecipação.
Quadro 1. C Análise funcional da mediação didáctica. Exemplo de LO
Episódio cognitivo de nível 2:
vai-vém de interacções
|
Episódio cognitivo de nível 1: célula de
interacções
|
Momento e instâncias
relacionadas
|
O conjunto do protocolo
LO‑Sabah
|
LO. Mediadora:
recorda a finalidade: *Quanto tens?+ Por meio das suas expressões
verbais, LO indica a Sabah o fim a atingir
|
Situação S1. Problema de partida, favorece
a antecipação e permite a expressão das hipóteses de trabalho.
Objectivo
da actividade.
|
|
LO. Mediadora:
*Quanto, rápido ... ?+ *... para verificar já+: o acento é posto sobre a
eficácia *rápido+; é um trabalho sobre o controlo
e a antecipação.
LO
encaminha o aluno para a solução final mediante a verificação.
|
Momento A: colheita de informações; passagem
da situação real à representação.
Antecipação.
|
Não
aparente nestas interacções.
|
Momento B
Raciocínio
inferencial.
|
|
LO. Tutora: LO convida o aluno a fazer
dezenas: *onde estão os molhos? Não os
vejo.+ Os agrupamentos devem estar
visíveis, manifestos.
|
Momento
C:
retorno ao referente da situação de partida
|
|
Situação S2.
|
LO. Tutora: ajuda a organização do
referente: os agrupamentos são então visíveis, como convém.
|
Situação final S2.
Nova situação para um novo rodeio conceptual.
|
Observando as instâncias do esquema relativas às
expressões de LO, encontramos as duas formas de ajuda (mediação e tutela).
Quadro 2. C Análise funcional da mediação didáctica. Exemplo de HI
Episódio cognitivo de nível 2
|
Episódio cognitivo de nível 1: ajuda
do professor
|
Momento de actividade
e instância relacionada
|
|
HI. Mediadora: através da questão: *Quanto há?+ HI sublinha que há uma
quantidade para avaliar numericamente
|
S1. Problema de partida;
Finalidade visada.
|
HI Tutora: exaustividade da enumeração; HI sublinha a acção a realizar: *até ao fim+. Tomada de informações que
podem desencadear a acção: *não se sabe+ *grande quantidade+. Apelo à memória colectiva da
classe *o que é que ...+; *quanto tendes [...] * o que é que vos faço fazer?+
|
Momento A: exercício dos esquemas disponíveis e pôr em evidência
o seu limite. Inventário dos invariantes operatórios necessários (saber
enumerar 1 a 1; conhecer a série até dez). Selecção das informações
necessárias a esta evolução (grande quantidade; memória colectiva).
|
|
HI. Tutora: Faz o inventário dos esquemas disponíveis *Como+. HI apresenta informação
pertinente: *de 8; de 7; de 9; de 3+, o tamanho dos molhos inferiores
a dez. A tutela de HI é estrita, ela guia passo a passo e põe o acento nos
elementos que julga pertinentes
|
Momento B: trabalho sobre o raciocínio inferencial.
|
|
HI. Tutora: todas as etapas são realizadas com ajuda de HI, a
antecipação é pouco solicitada *maço de quanto?+
|
Momento
C: retorno à
situação .
Recontextualização.
|
|
Realização de agrupamentos. A noção de base é
questionada neste momento, mas o tamanho dos agrupamentos (base dez) esperada
por HI não está ainda presente. Será necessário um outro rodeio conceptual.
|
Situação final S2.
Estabelecimento da regra de
acção(*se há uma grande quantidade de
objectos, então fazem-se molhos, segmenta-se a colecção).
|
Quadro 3. C Análise funcional da mediação didáctica. Exemplo de AR
Episódio cognitivo de nível 2:
interacções verbais
|
Episódio cognitivo de nível 1: célula de
interacções
|
Momento e instâncias
relacionadas
|
O
conjunto do protocolo
LO‑Sabah
|
AR. Mediadora: resume as diligências seguidas por Pauline para
colheita de informações pertinentes.
|
Situação
S1. É posto o problema
de partida.
É sublinhada a finalidade da acção.
|
|
AR. Mediadora: *Então [...] como vais fazer para saber se é
assim?+ AR encaminha o aluno para as
acções que poderia adoptar, é um trabalho de antecipação.
|
Momento
A: colheita de
informações; passagem da situação real à representação.
Antecipação.
|
Não aparente nestas interacções.
|
Momento
B
Raciocínio inferencial.
|
|
AR. Tutora: AR utiliza de maneira oportuna uma situação da aula.
Convida um aluno e toda a classe a imitar um camarada.
|
Momento C: retorno ao referente da situação de partida
|
|
Situação S2.
|
AR. Tutora: ajuda a organização do
referente: os agrupamentos devem ser visíveis, e *nítidos+.
|
Situação final S2.
Nova situação para um novo
rodeio conceptual.
|
As
condutas de mediação ou de tutela, não são exclusivas uma da outra, elas
completam-se e parecem ser ambas necessárias para realizar a função didáctica
da mediação. Em certos casos, é no decurso da interacção, tendo em conta as
respostas dos alunos, que o professor adopta uma atitude de mediador. Esta
função didáctica permite compreender como os processos de inferência podem ser
tratados no ensino, destacando os elementos que facilitam a sua realização, o seu
exercício e a estabilização dos conhecimentos construídos. A mediação manifesta-se
através de gestão didáctica, aquando das interacções entre o professor e o
aluno; por exemplo, quando se reformula a interacção (rodeios de interacção), repetindo
com um material diferente; assim, em dado momento da progressão, HI retoma o
questionamento, descrevendo-o, neste exemplo, com palitos, moedas, tentos e
finalmente pérolas. Constata-se assim que o rodeio conceptual facilita a
aprendizagem dos aspectos mais resistentes da noção (*passagem à dezena+). A
mediação didáctica modifica a situação de ensino, sobretudo pondo o acento das
acções do professor sobre os esquemas dos alunos e não directamente sobre a
situação.